Tenho que me acostumar que não descerei mais toda terça-feira aquela rua que eu gosto, que não vou sentir mais o cheiro de Pinho Sol da casa de portão fechado, que não vou passar pela lavanderia que tem cheiro de roupa passada, que não verei mais os senhores e senhorinhas caminhando com seus cachorrinhos, que não vou ver os gringos chegando no hostel bonitinho, que não vou ver o barbudo ruivo da bicicleta, dono da loja de frozen yogurt.
Tenho que me acostumar que não vou mais ver o cabeludo na janela da escola de música e nem a moça do milho. Não verei também o japonês da venda que não quis me vender uma banana porque ele não vendia unidade, mesmo eu estando com fome.
Tenho que me acostumar que não vou ver mais o Bujão, o gato arrogante e lindo da mercearia.
Tenho que me acostumar que não poderei mais esperar para falar com a Sandra e assim decidir o que faço.
Tenho que me acostumar que tô por mim, que tô sozinha. Tenho que me acostumar que isso deve ser bom, que vai ser bom.
E eu tenho que me preparar para a despedida dela, porque é quase como se parte de mim fosse embora.
Ela é quase um espelho, mas sem muitas distorções, refletiu muito do que sou e muito do que eu não queria ver. É estranho se perceber pelos outros, é estranho perceber que você vai perder essa percepção.
Mas é estranho também perceber que depois de tantas coisas ditas naquela sala com duas poltronas, eu mudei. É estranho a percepção clara da mudança, de olhar para trás e perceber que o que você foi por um período se perdeu.
É estranho, mas no fundo acho que é bom que ela vá, penso que se dependesse de mim eu nunca a deixaria, então, acho que de uma forma singular, é só mais um jeito dela me ajudar, no final, ela fez algo que eu não conseguiria.
Eu acho que vou chorar quando me despedir dela.
Um comentário:
eu senti vontade de chorar só de imaginar essa despedida.
=)
boa sorte! você vai se sair muito bem, milla!
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