29 de maio de 2014

Uma história de metrô

Hoje eu fui mais tarde para o trabalho, porque fui fazer um exame, quando entrei no metrô, tinha um senhor sentado naqueles bancos para obesos e um lugar vago, eu fiquei perto, mas não sentei, eu nunca sento nos bancos reservados.

Ele me olhou, sorriu e perguntou se que queria que ele segurasse a minha bolsa, eu agradeci e disse que não precisava, porque desceria em duas estações, daí surgiu um diálogo.

- Você é linda, menina, linda como uma criança, sabia?
- Ai, brigada [eu meio sem graça]
- De verdade, nunca, mas nunca mesmo perca esse brilho que você tem, nunca perca esse sorriso, você sorri como uma criança.
- Você tem descendência oriental?
- Não, mas quando era criança achavam que eu era japonesa, acho que é porque meu rosto é muito redondo.
- Redondo é uma forma perfeita.
- É, acho que sim [disse rindo]
- Você faz ioga?
- Não, nunca fiz.
- Você iria gostar.
- Você é de que lugar do Brasil?
- Sou daqui mesmo, de São Bernardo.
- Ah, você é daqui, eu moro perto do zoológico.
- Sei, lá é frio! Eu passava por lá quando ia para faculdade.
- Frio é relativo, é tudo questão de como você pensa. Eu soube de um homem que foi colocado numa câmara frigorífica desligada, mas ele não sabia que estava desligada, ele ficou doente só de pensar no frio. Tem que tomar cuidado com o que a gente pensa, a gente pode congelar por nada.
- É... [aqui eu estava sentindo que tinha tomado um tapa na cara]
- Eu vou descer aqui [estava chegando na minha estação]
Eu dei um abraço nele, percebi que ele ficou surpreso.
- Menina... obrigado!
Daí ele me disse algo que não entendi, me falou que era sânscrito e que significava "que você e todos a sua volta sejam completos, que você sorria e seja feliz sempre"

Eu fiquei realmente feliz :)

28 de maio de 2014

Um outro lugar

De uns tempos para cá, durante a semana eu me sinto bem cansada, bastante desanimada, meio qualquer coisa entre essas duas. Eu tô bem, mas é como se eu estivesse meio apática com minha vida em alguns aspectos.

Eu preciso muito mudar, mas eu não sei direito como fazer, me sinto meio perdida, como se eu ainda fosse criança e precisasse da ajuda de alguém a todo momento.

De tempos em tempos eu me repito, de tempos em tempos eu fico mal pelo mesmo motivo, mas agora eu sinto que meu limite está muito próximo.

Como se minha vida precisasse virar, mudar totalmente e me colocar em outro lugar para ser ocupado. Um lugar em que eu sinta que é meu, que eu sinta que sou essencial para que ele funcione.

Eu realmente preciso fazer algo além de escrever e cortar o cabelo, como se isso mudasse muita coisa.

27 de maio de 2014

Numa terça de chuva tão fria que me entristece, com pensamentos tão tortos que confundem, com meus pés que não esquentam nem usando meias, eu fico com medo.

Medo de estar navegando sozinha, medo de terminar à deriva.

O frio é amigo íntimo do medo, tenho certeza disso.


Não mais no mesmo lugar

Algumas conversas têm o poder de mostrar o quanto você tá panguando na vida e tô agora com a sensação de que preciso fazer algo, preciso de movimento, alguma coisa que mude tudo, porque viver por viver parece meio besta e viver por viver, se cansando muito e sem o mínimo de qualidade, parece burrice.

Porque para certas coisas, não importe o quanto a gente espere, nunca estaremos prontos, o "estar pronto" só acontece no meio no caminho.

Eu só preciso respirar, me organizar e pegar o caminho que quero faz tempo.

"Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar"




26 de maio de 2014

A dificuldade do entendimento do "cai fora"

Eu tenho uma dificuldade em lidar com quem invade meu espaço, mas eu explico quando isso acontece, eu aviso "olha, não quero papo contigo, tá?", eu não curto ser mal educada, mas tem gente que parece que curte forçar mesmo a barra.

Porque além da falta de respeito em não entender que não quero contato, tem a petulância da insistência em acreditar que sua magnânima pessoa apenas por si, vai me fazer mudar de ideia e pensar "ahhh, então tá bom! eu vou falar com você um babaca, cretino, misógino, só porque você insiste".

Qual o problema de gente assim? Não sei, francamente não sei. Fico na dúvida se é babaquice em forma pura, arrogância demais, burrice em não entender códigos de comunicação com a sentença "não quero falar com você nunca mais", ou se apenas a pessoa não tem louça para lavar.

Uma musiquinha

23 de maio de 2014

Uma sexta com tudo

Sabe um dia de merda? Multiplica aí por cinco, junto com a sensação de estar sozinha, junto com a sensação de que você está de fora de alguma coisa, junto com a sensação de que tem algo estranho, junto com a sensação de que a banda tá passando em algum lugar, alguém deve estar até dançando, mas você nem escuta nada, não viu e nem soube.

Tá uma bagunça aqui na minha cabeça que eu não consigo nem organizar, não consigo nem explicar direito o que tá rolando. Eu preciso de um nome para definir o que tô sentindo e eu não acho, é por isso que ainda não sei o que tô sentindo.

Isso porque é sexta-feira, um dos supostos melhores dias da semana. E teve tanta coisa chata, mas tanta, tanta que não saberia por onde começar, teve de tudo. Pena que não teve tudo de bom.

"Mas vai melhorar, né?
Claro que vai, vai melhorar."

Aham. Então tá bom, vou tomar meu banho, ficar quietinha de pijama que é mais seguro.


21 de maio de 2014

Ser mãe

Eu não consegui ir trabalhar, não tinha ônibus por conta da greve, fiquei presa em casa.
Fiquei o dia todo em casa e sozinha, pensei demais, chorei, pensei mais um pouco, chorei, tentei meditar, chorei.

Meus pais foram pescar e no final do dia, quando chegaram, minha mãe veio falar comigo:
- Tá tudo bem?
- Tá sim, mãe.
- Eu pesquei bastante, vou fazer peixe para a janta, você vai querer?
- Vou, quero sim.
- Você quer frito ou grelhado?
- Pode ser grelhado, mãe. 
- Você estava chorando, Camila?
- [Insira aqui uma sessão de choro descontrolado]
- Camila! Não acredito, para com isso, você vai ficar bem. Que bobeira!

Sabe o que é ser mãe? É confortar uma filha descontrolada de 32 anos, fritar peixe, afirmar que tudo vai ficar bem com a mesma certeza que o peixe ficará ótimo.

Acho que isso é ser mãe.

18 de maio de 2014

O preço

"Melhor não contar a verdade, vai por mim!"

Essa é uma das coisas que cresci ouvindo e ainda escuto, mas eu simplesmente me nego a acreditar. Já perdi a conta de quantas vezes eu fui chamada de romântica, de babaca e de ingênua por discordar.

Eu entendo que em determinado momento da vida todo mundo fica meio cínico, rola uma descrença e uma decepção, eu sei que isso acontece, mas eu só consigo suportar a ideia de que isso seja uma fase, não sou capaz de acreditar que é possível viver assim. Eu não sei mentir, eu nunca fui boa nisso, mentir me cansa demais, a verdade é menos trabalhosa.

Eu nunca namorei muito, eu ainda me confundo, eu faço merda e, frequentemente, sinto que coloquei tudo a perder, sobretudo quando eu desafio a regrinha torta lá de cima.

Porque para tudo tem um preço, inclusive quando você tenta não seguir a fórmula que te ditam há 32 anos, o preço pode ser medo, muito medo e uma sensação recorrente de que você está totalmente errada por optar por outro caminho, que na verdade "you know nothing, jon snow".

O preço pode ser chorar, sentir culpa e terminar com dor de cabeça num final de domingo. Mas foi escolha minha, né?

15 de maio de 2014

Um monte de coisas bonitas

Eu sou do tipo que mostra muito mais as tristezas do que as alegrias, não sei bem porque, talvez por sempre ter acreditado que o amor e todas suas firulas enfraquecem, o que não é verdade.

Normalmente eu escrevo quando tô mal, quando tô triste, porque é um escape válido para não explodir, mas hoje eu queria escrever um monte de coisas bonitas, coisas que ando sentindo, descobrindo e me permitindo, mas também é meio confuso, eu não consigo pontuar muito bem, acho que tô aprendendo a acreditar que eu mereço ter coisas boas na minha vida.

Tô conseguindo ver o lado positivo em situações que antes eu não veria, como ter perdido minha carona matinal para o trabalho e ter que pegar logo cedo dois ônibus e metrô. Antes eu apenas acharia horrível, mas agora eu sei que todos os dias de manhã eu posso ler e escutar música e isso é bom no final.

Ilustração de Pascal Campion

12 de maio de 2014

Só por hoje

Ultimamente, na maioria dos dias eu até que tô bem com quem eu sou, mas hoje não.

Só por hoje eu não queria ser eu, não queria tantas dúvidas, tantas inseguranças, tanto medo.

Só por hoje eu queria ser como você e provar como é estar desse outro lado, inabalável e tão seguro.

Em 32 anos eu nunca estive desse lado.

1 de maio de 2014

É um teste

Um teste de postagem, porque eu tô testando postar do celular, na cama, no meio de um pouco de culpa por deixar escapar o monstro hoje.

Ele correu, deu o ar da graça, trouxe decepção e ainda me fez ouvir que fico muito chata.

E tudo o que eu tô sentindo até agora é culpa por ter deixado ele, esse monstro, que é parte de mim, aparecer.

É a culpa e um pouco de "que merda, não era para ter deixado aparecer esse meu lado, como pude deixar escapar assim, tão fácil, essa parte feia do que sou?".

Enfim, é um teste, não sei se tá funcionando, não sei se tem pontuação no final, não sei se posso ser reprovada.

Teste difícil.