18 de dezembro de 2009

hoje

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no banheiro deixou a imagem no espelho

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se despiu e fez dos olhos um chuveiro

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às vezes sangue, noutras água e a dor se diluiu por inteiro
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7 de dezembro de 2009

O que ficou

Eu queria escrever sobre algo engraçado, divertido, pensei em um conto, mas sei que vou acabar escrevendo um artigo, um texto mega pessoal, então resolvi deixar na primeira pessoa mesmo, afinal sou eu quem escrevo, né? Porque usar a terceira pessoa impessoal do Jornalismo aqui? Então hoje é pessoal. Escancarado mesmo. E como estou inconstante, acabei de mudar o tema do texto, que será uma retrospectiva do meu ano. Pronto, resolvido.

Eu percebi que eu tenho ótimas lembranças desse ano e que muitas coisas que antes não me faziam rir, hoje me dão cócegas. Exemplo? Eu era muito mal humorada, não conseguia ver humor na desgraça [tudo bem que é preciso atingir um alto nível para chegar nesse ponto, mas hoje estou nele]. Sim! Eu ando rindo, uma desgraça de riso. Às vezes é um sorriso torto, muitas vezes é descontrolado, mas eu consigo rir de muita merda. O motivo? Autopreservação, porque aconteceram merdas homéricas, daquelas dignas da novela, sabe? Teve pessoas com nome composto, teve loira, gente falsa, intrigas, choro, arrependimento e superação. Sem a parte do glamour, Manoel Carlos passou pela minha vida esse ano, acho que é isso. Há quem diga que rir demais é ruim e, de certo ponto, concordo. Quem muito ri, acaba chorando no final. É verdade.

Eu desisti de achar sentido em algumas coisas e então eu simplesmente acabo chorando ou gargalhando. Estou em pontos extremos ultimamente. Dificilmente estive serena ou equilibrada nesse ano. Esse foi o ano do meu desequilíbrio. Eu precisei cair da corda para me encontrar lá embaixo e percebi que muito de quem eu era, eu deixei cair, fui me desfazendo de algumas características minhas, não sei se pelo andamento de tudo ou por um incentivo estranho de algumas pessoas, não importa muito, porque a culpa de ter me jogado aos poucos, foi minha. Sim, essa culpa é minha.

Mas hoje, quase uma balzaca [ando com orgulho da minha idade mediante tanta gente babaca que tenho encontrado], e depois de passar um ano tenso, eu mudei muito. Aprendi coisas horrorosas nesse 2009 e outras coisas boas que levarei para sempre.Uma delas é que agora acho engraçado o medo que eu tinha de beber. Sim, eu era travada e quase não bebia nada alcoólico. Não sei se por receio de um histórico familiar ou se por puro medo meu de perder o controle, mas adivinha só? Perder o controle é muito bom. É sim!

Eu já me perdi em algumas noites, agarrei uns postes, falei alto, fiquei tonta, fiz umas merdas, dancei fora do compasso, fiquei descabelada, misturei fermentado com destilado, mas ainda não vomitei. Não regurgitei aquilo tudo que me fez mal, mas tudo ao seu tempo. Ainda é preciso mandar mais para dentro, para depois soltar tudo, acho que é assim que funciona.

Pela primeira vez, em tantos anos, eu sei que virão mais mudanças e claro que me assusto. Eu não sou fã de mudanças, elas quase me paralisam. Falta sinceridade naquele que afirma que adora mudanças. Isso é desculpa de funcionário que finge ficar feliz quando vai para um setor desconhecido. Mudar? Só se for o salário, para maior. Não gostamos de mudança. Se fosse assim não choraríamos quando fomos expulsos do confortável ventre materno. Ainda hoje desconfio que lá deva ser mais confortável do que aqui, mas é um caminho sem volta.

Bom, sendo assim entre gargalhadas, tropeços, choros descontrolados, bebedeiras, eu gritando, ofendendo, xingando, odiando, amando, duvidando, querendo mal, querendo bem, querendo sumir, querendo morrer, querendo viver, não querendo nada, esquecendo tudo, lembrando das dores, ignorando as dores, abrindo e fechando feridas, com o cabelo bonito, descabelada, unha feita, vida desfeita, sabe para que serviu? Para que eu percebesse que eu sou, mas não uma. Eu sou um coletivo de pessoas. Pessoas que eu aprendi a amar e que me seguraram esse ano inteiro, por toda vez que cai.

Há algum tempo eu escrevi um texto que era baseado em um personagem do livro “O Lobo da Estepe” as palavras surgiram por identificação ao ser lupino da obra, mas hoje eu vejo outro sentido na frase “Todo homem é uno quanto ao corpo, mas não quanto à alma”, porque é isso, minha alma é definitivamente plural. Eu sou um coletivo de quem eu amo.





[ Fiquei clichê e mimimi, mas não se preocupem, não vou desejar Feliz Natal para ninguém ;) ]

1 de dezembro de 2009

for you

- Preciso conversar com você – disse com os olhos baixos.

Ela sabia que viria merda, porque quando alguém tem algo de bom a dizer simplesmente diz, mas quando é algo ruim, sempre vem um aviso antes. Um “senta um pouco” ou um “espero que me entenda” as pessoas tem dessas incoerências, pedirem para você ficar calma e sentada quando uma bomba vai cair no seu colo, enfim. Ela foi incoerente e sentou e, da maneira mais imbecil, tentou entender, mas não conseguiu, é claro.

- Eu não sei mais o que eu quero, não sei mais se te amo, quer dizer, eu gosto de você, mas você não corresponde mais às minhas expectativas, sabe? Eu estou confuso, entende?

Como assim? Como ela não correspondia? O que ele queria? Quem ele achava que era? Muitas informações para assimilar e de repente lembrou que em 1 hora teria que ir buscar o bolo do seu aniversário e tudo o que pode dizer foi:

- E você chegou a essa conclusão no dia do meu aniversário?

- Não, eu já venho pensando nisso tem um tempo, mas nunca achava o momento ideal para contar.

-E pelo visto continuou sem achar! Como você pode ser tão cruel assim?

Ela sentia que deveria ficar muito triste, muito mesmo, mas naquele momento ela só sentia raiva dele, vontade de bater, gritar e xingar ele de filho da puta, cretino e babaca. Se ele estava infeliz há um tempo que ficasse mais um dia. Mas ela controlou a raiva e disse:

- Podemos tentar fazer dar certo. Eu acredito em nós. Juntos podemos tentar arrumar o que está errado – ela disse em uma tentativa desesperada, sem nem mesmo entender qual era o erro.

Mas ele não se comoveu em nada e teve a frieza que ela devia ter.

- Não existe mais nós. Só existe eu e tem você do outro lado, apenas isso. Você fez eu me sentir no inferno nesses últimos meses. Você não me deu carinho suficiente, não me amou como eu merecia. Você me fez muito mal.

Ela se levantou da cadeira, andou até a janela e percebeu que estava ficando mais velha, sem namorado e tinha um bolo na confeitaria a sua espera para comemorar o fato dela ser a personificação do capeta em Terra, ótimo.

- Você está apaixonado por alguém?

- Acho que não tem nada a ver falar disso.

Ah a resposta típica de quem não admite e nem nega. Um jeito covarde de se ausentar, por não ter a hombridade de falar a verdade.

- Sua resposta já diz muito. Então é isso? Está terminando comigo? E dizendo que a culpa de tudo foi minha?

- Eu não sei se quero terminar com você, mas não tenho mais certeza se quero ficar com você. Queria que você me entendesse.

Naquele momento toda a raiva voltou. O que fazia uma pessoa ter uma conversa nesse nível e depois voltar e dizer que não tem certeza? E o pior, pedir compreensão? Como entender que a síntese de cinco anos era que ela era uma pessoa incapaz de fazer alguém feliz?

- Você quer que eu te entenda? Você chega no dia do meu aniversário e diz que não sabe mais se me ama, que não sabe se quer ficar comigo e quer que eu entenda? Você não me diz motivos concretos, diz apenas que não fui carinhosa o suficiente, o que é o suficiente para você?

- Eu te dei presentes, eu te fazia carinho, fazia massagem, eu vestia lingeries para você, eu topava praticamente tudo em sexo, tolerei todos seus amigos babacas sorrindo, suportei a sua família imbecil, ignorei você ser um egoísta por te amar, fiz vista grossa para um monte de defeitos seus e você acha que EU não correspondo às suas expectativas?

- É isso que estou falando, tá vendo? Você é muito ríspida, não tem muita doçura em você, sabe?

Naquele momento ela queria muito, mas muito mesmo estar com o bolo de aniversário, porque com certeza jogaria na cara daquele filho da puta e mostraria pra ele o que era doçura.

- Não! Eu não sei! Se quisesse alguém com tanta doçura você devia continuar namorando as garotas babacas do colégio que devem ter o mesmo intelecto que o seu! Some daqui! Vai embora!

- Essa sua atitude só vai colaborar para você me perder mais...

- Perder? Você é maluco! Quem está perdendo é você sabe por quê? Porque você vai me perder e com o passar do tempo, você vai se lembrar de como eu me encostava em você na cama, como te fazia cafuné para dormir, vai lembrar do quanto eu gostava de transar com você e como eu fazia você se sentir bem. Quando você estiver procurando as minhas qualidades em outras garotas que não tem nada de mim, você vai lembrar do quanto te apoiei em tudo, em como eu torci por você, de todas as vezes que chorei de alegria por você e como era quando eu corria ao seu encontro e nos beijávamos.

- Você vai lembrar que só eu sabia certas coisas suas, e que só comigo você podia ser você mesmo. Você terá saudade, inclusive das nossas discussões, quando encontrar alguém que não se dá nem ao trabalho de argumentar com você e todo dia quando você acordar e se olhar no espelho, você vai se lembrar que você é quem é, graças a mim, que eu fui essencial para você ser você. Você não vai apenas me perder, você vai se perder. Boa sorte.

E mandou ele embora, com os olhos meio úmidos e o coração como se fosse uma folha seca, prestes a rachar, mas não aconteceu e hoje ela entende que aquele foi um Feliz Aniversário.

24 de novembro de 2009

arrumando a pirâmide

ele a abraçou e desceu as mãos em sua cintura. sentiu seu corpo contra o dele e sentiu algo que há muito tempo não sentia. como quem desperta de um longo período de sonolência.

ela achou que seria beijada, mas ele simplesmente encostou seu corpo ao dela e a observou, e ela percebeu que também fazia tempo que não era observada daquela forma, sob um novo olhar e gostou. não teve beijo, não teve sexo, não teve o lead. teve algo diferente.

de repente ela era o "new journalism" de alguém, né?



















*i´m back

16 de novembro de 2009

ponto

Se a sua incerteza te machuca, por favor, se machuque sozinho. Eu não quero mais isso. Cansei de pegar meus pedaços por aí, eu já não tenho mais linha para remendar o que está solto e não estou gostando desse "lady frankenstein way of life" porque sabe, sempre fica faltando um pedaço ou sobra algo que não encaixa, cansei de ficar torta e desforme. Acho que prefiro pensar que eu sou capaz de me refazer sozinha e no final, devo ser mesmo, já me refiz antes.

Então me deixe com a minha porção de monstruosidade, me deixe com meus defeitos, com a minha natureza que não te agrada, com meus erros imperdoáveis e com a minha grande capacidade de magoar. Me deixe com toda dor que sou capaz de causar. Me deixe com a minha grande possibilidade de fazer mal.

Espero que se encontre nos seus erros, como eu fiz.

Esse texto não é fictício e tem destinatário, que possivelmente vai demorar muito a ler isso.

26 de julho de 2009

Post Meridium


Ela acordou e viu -- -- : -- -- era como se fossem os espaços da sua vida naquele momento. Ela não queria ajustar, não queria saber que horas eram, que dia era. Não importava.


Se perder no tempo, entre um fim de tarde e o fim da noite. Se iludir entre uma verdade e uma mentira. Era esse seu foco. Ser feliz com o que não tinha. Acabou se acostumando com menos do que merecia.

O dia passou devagar, ela sabia disso porque mesmo com a janela fechada, a claridade entrou. Foi invasiva, não quis saber e lutou para clarear aquilo que devia. Fez seu show sem graça e foi embora sem ganhar aplausos. A noite veio chegando, convidativa, sensual como os movimentos de um gato. A janela, agora aberta, abriu espaço para a escuridão entrar, e lá ela ficou, ronronando as chances de ser uma noite boa, tentando convencer o quanto pode ser bom passear por um novo telhado para esquecer o conforto daquele em que se acostumou.

Uma de suas melhores janelas se abriu. Cantarolou algumas coisas que a fez chorar, não de tristeza, mas de uma alegria e uma fé quase infantil, de que tudo pode mudar. A janela parecia ter um pacto com a noite, porque falou coisas parecidas, mas ainda lembrou que não era um bom negócio ficar ali, na areia, que era bom liberar espaço para quem precisava daquela coisa áspera.

A noite e aquela janela a convenceram. Deu um pulo, agarrou todas as forças que tinha, arrumou o cabelo, passou um batom, vestiu algo inédito e foi. No caminho a saudade do conforto foi ignorada com veemência. Na chegada, pela primeira vez, fila. Quis usar isso como motivo para voltar ao lugar onde o tempo não importava, mas não pode. Foi recriminada taxativamente e lá ficou. Ainda bem.

Lá dentro dançou, cantou, pulou, gargalhou, encontrou pessoas improváveis, jogou o cabelo, ergueu os braços e gritou com todas as forças "Hate you say I told you so" ...yeah, she told me.


Subiu, sentou em um sofá meio capenga, sabia que estava descabelada, mas não ligou. Conversou um pouco, levantou e dançou de novo, e mais um pouco. Finalmente cansou, suspirou e foi embora, aliviada.


A noite ronronou vitoriosa, a janela já estava quase fechando e a areia estava lá atrás, e do mar quase não se ouvia nem as ondas, uma lembrança... como aquela música que ela cantou.

Chegou em casa e a primeira coisa a fazer foi preencher os espaços: 06:40, agora sim.


Boa noite? Sim, ótima. Assim como a roupa que vestia, foi inédita.


Ela foi minha melhor janela, porque elas sempre estão acima das portas. Tks.



23 de julho de 2009

justatalk

- sabe aquele sorriso? aquele que você sorria, meio bravo, meio com os lábios tortos?

- ai como assim não lembra?

- sua memória é péssima! sabia?

- é, ela melhorou, mas ainda falta muito!

-

-

-

- ééé, é esse o sorriso! você lembrava o tempo todo!

- acho que nunca confiei muito em você por conta dessa sua veia teatral.

- não se ofenda, você é assim, meio ator, meio clown...

- eu sou séria? ahahaha

- imagine sua vida sem eu por perto, você seria só mais um palhaço por ai, só que sem o nariz.

- é...você me faz rir sim...ainda.

- tchau.

a little help


"Talvez tivesse um coração de nanquim, talvez tenha pintado somente um rascunho amassado e agora precisasse de um novo coração de papel branco e liso para colorir com outras cores. Não vi o fim de uma alma, e sim uma outra vida que estava pra começar. Nova. De mais lágrimas pretas, com motivos diferentes e os mesmos de sempre. Tentei convencê-la de que seu show não terminava ali, apenas um ato, e que outros estavam por vir. Talvez eu tenha chegado atrasado para o que ela disse ser o todo. Mas prefiro acreditar que cheguei em tempo para fazê-la crer que o futuro era incerto, mas não proibido"

Palavras de um amigo


22 de julho de 2009

amarelinho

ele sequer notou aquele post it no meio do grande livro que era a vida dele.

deve estar fingindo que é uma revista, daquelas que se lê em uma hora na fila do banco.

preferiu ser a rapidez de uma hora numa leitura vazia, do que a memória de um personagem inesquecível.

triste, não?

é...também acho.

tum tum

Xiu...

Fica quieto, não quero mais saber de você.

Pode bater o quanto for, a única resposta que terá é meu silêncio.

Não vou mais te seguir por uns tempos, você já ganhou um unfollow temporário, seus caminhos são tortuosos e doloridos demais.

Pode parar...isso, assim mesmo.

Quietinho. É assim que deve ser,

Apenas por um tempo.

Até logo.

23 de junho de 2009

não nascidas

Uma porção delas teimam em me diminuir, inclusive pela minha ausência com elas.


Elas escorrem pelos olhos, escapam da boca e permanecem não ditas, natimortas.


Abortou o que tinha de bom. Restou uma poça de sangue que ninguém quer limpar e um quase corpo que ninguém quer enterrar.

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Foram as suas, as minhas, as deles e de muito mais, e o que restou?

Um cemitério cheio delas.

Palavras.

27 de fevereiro de 2009

Tenha dó*

Não me fale de nós dois, não preciso mais saber...

Eu tento não pensar e ignorar, mas não consigo. Cheguei a conclusão que posso aceitar, mas não consigo conviver. Não dá. Meus limites são outros. Eu posso deixar tudo pra trás e construir um castelo novo com você, mas não vou reformar o antigo. Ele já durou o tempo necessário.

Meu amor, não sou tão só assim...

Eu gosto de ser sozinha, mas não quero ficar assim. Por opção quero companhia, então já que você não me quer, não me prenda. Não faça do amor que eu sinto minha prisão. Por muito tempo meu amor foi minha felicidade, mas agora ele é minha tristeza. É por conta dele que sofro, é por culpa dele que choro e é por ter tido esse amor, que eu sinto que não posso mais viver sem ele. É torturante, mas um dia vai passar, vai sim.


E finalmente quando a superação vier e o mundo mudar, você me diz:

Que me ama, que sem mim você não vive

Que foi apenas um deslize, que você preza pelo meu amor...

Mas sabe...

Tempo voa e quando vê já foi...

E perdemos por medo de errar.

*Inspirado na música Tenha Dó, Los Hermanos

20 de fevereiro de 2009

the past

Sinto que estou esquecendo, que estou perdendo o que tinha.

Não queria superar, não queria deixar para trás, não queria que fosse apenas passado, não queria esse baú de lembranças tão pesado de carregar.

Mas não vejo mais o futuro, porque alguma coisa se perdeu no meio de tudo. Não sei se a confiança, se a lealdade ou se o amor.

No lugar disso só um vazio deixado pela ausência de tudo o que já senti.

12 de fevereiro de 2009

resposta

Não tem vidro e nem chuva batendo nele porque já quebrou.

Você não vai saber onde meus passos me levam porque reciprocidade é tudo.

Mas não se preocupe, você nunca será apenas mais um. Você será quem eu amei e quem mais me magoou.

Essas palavras NÃO são fictícias.

7 de fevereiro de 2009

[m]e

Depois de tanto tempo a primeira pessoa do singular ficou meio de lado, isso nunca devia ter acontecido. O pior é que agora tenho que me acostumar comigo mesma, me desconheço sozinha. Me perco com sentimentos que nunca tive, com pensamentos malucos. Não sei mais o que fazer pra me entreter, não sei mais me agradar.


Quando eu supero algo, logo vem outra coisa que parece que vai me derrubar e, muitas vezes, eu caio mesmo. Cada vez que percebo que estou sozinha eu preciso fazer um exercício que exige concentração em quem eu sou, porque eu não me encontro no meio desse turbilhão de coisas, fico tateando até me achar e me equilibrar, mas às vezes demora e só me machuco mais. Sinto que minhas feridas estão cicatrizando, mas ainda doem. Não consigo ainda ignorá-las por completo, mas tenho conseguido lidar com elas, tenho aprendido muito. Já me sinto mais forte.


Preciso me acostumar com minha nova realidade, “nós” que durou por tanto tempo, não existe mais. Não tem mais o que nós vamos fazer, o que nós queremos e para onde nós vamos. É só o que eu vou fazer, o que eu quero e para eu onde vou. Eu, eu e eu.

“Nós” é passado e o futuro sou eu.




Talvez eu tenha chegado atrasado para o que ela disse ser o todo. Mas prefiro acreditar que cheguei em tempo para fazê-la crer que o futuro era incerto, mas não proibido.

* De um amigo



1 de fevereiro de 2009

maybe

Eu nunca achei que fosse sofrer de amor, mas agora estou assim, ridícula, sofrendo. É como uma dor no peito que de tão forte gera um choro incontrolável, que parece sem fim. É estranho como adequamos nossa felicidade a uma outra pessoa e talvez isso seja um pouco absurdo também.


Queria ser auto-suficiente e não sentir sua falta, não precisar de você. No momento não consigo definir o que é pior, se sua ausência ou sua presença me lembrando que você não me quer mais, que nosso amor no final acabou ou se transformou numa amizade, ou qualquer outra coisa que não é o suficiente pra mim.


Eu não tenho mais vergonha de admitir que fui posta de lado como um travesseiro velho, ainda macio, mas não tão gostoso como um novinho em folha. Porque é assim que eu sinto. Não necessariamente uma troca, embora eu não saiba se houve, mas um abandono com certeza houve, um “não te quero mais”, com certeza.


Eu escrevo isso para você, porque quando você ler, talvez eu já não queira mais só sua amizade, talvez eu perceba que estou me torturando, talvez eu tenha me cansado de sofrer e talvez eu tenha cansado de tentar mudar para ser perfeita para você. A perfeição de peças usadas é uma coisa rara, geralmente o uso causa desgaste e deformação e a peça começa a ser caracteriza pelas imperfeições que ganhou no decorrer do tempo.


Me sinto como o cobertor velho do Linus, que dá conforto, mas na real não tem mais a utilidade de um cobertor, na verdade é só um trapinho. Só um apoio, um velho hábito, que mais cedo ou mais tarde deve desaparecer.

21 de janeiro de 2009

?

O que a gente faz quando se sente absurdamente sozinha? Procura alguém? Um amigo? E para que? Para dizer coisas que ninguém pode ajudar? Para ganhar um abraço?


Eu não sei como fazer isso, não aprendi a pedir ajuda. Não por orgulho, mas porque não gosto de incomodar os outros mesmo. Fico sozinha no meu canto lambendo minhas feridas até elas cicatrizarem e eu poder voltar a ser o que estou acostumada a ser, a ser como me conheço. Eu me perco comigo desse jeito.

10 de janeiro de 2009

Coccinellidae

Acordou se sentindo estranha, parecia pequena, sem dúvida estava menor. Levantou na cama sonolenta e tomou um susto. O quarto estava em proporções gigantescas. Tudo era imenso. A tevê parecia maior que uma tela de cinema, o guarda roupa tinha a altura de um prédio e o ventilador do teto lembrava a turbina de um avião.

Não conseguia interpretar aquilo que via. Ficou preocupada pensando que talvez ela estivesse doente, ou tivesse uma substância alucinógena na última refeição, ou que simplesmente estivesse louca. Decidiu levantar.

Quando desceu da cama, instintivamente caiu no chão e os olhos só enxergavam na altura do rodapé da parede. Caminhou até poder tocá-la, mas não encontrava as próprias mãos. Desesperada passou pelo vão da porta do quarto e correu pelo corredor. Foi uma corrida e tanto, o banheiro nunca pareceu tão longe.

Entrou no banheiro. Luzes apagadas, mas curiosamente enxergava no escuro e podia ver que lá, também era tudo grande. Pensou por um momento que pudesse ter enlouquecido mesmo. Sempre teve uma péssima auto-estima, sempre se sentiu pequena e meio insignificante para algumas pessoas, talvez fosse isso. Depressão contínua com enlouquecimento por culpa da insegurança que sentia.

Como não alcançava o espelho, tentou pular e, para sua surpresa, flutuou. Ali já tinha certeza de que estava tendo um pesadelo. Vivia de ilusões, mas não tinha o talento dos ilusionistas. Curiosa, pulou de novo. Flutuou de novo. Respirou e pensou que entraria no sonho, pesadelo, alucinação ou o que fosse aquilo e flutuou. Percebeu que dando impulso poderia voar.

Era boa a sensação. Sentiu-se plena no meio daquela confusão toda. Sem os pés no chão e livre de qualquer apoio. Foi voando até o espelho e quando viu sua imagem o coração disparou. Perdeu o equilíbrio. Bateu na pia e caiu no chão.

Nunca teve paciência de ler a Metamorfose, de Kafka, mas sabia que o personagem se transformava em uma barata e achava aquilo extremamente depreciativo. Não sabia se sentia alivio em não ser uma barata ou se achava cômico ter se metamorfoseado naquilo. Redondinha, simpática e com bolinhas. Aquelas que meninas acham lindinha, fofa e colam adesivos em seus cadernos.

Era muita ironia. Uma joaninha. Justo ela, que todos sempre diziam que era mal humorada ser transformada num inseto amistoso com cores da moda. Era só o que faltava. Se bem que era melhor do que o marrom sem graça de uma barata. A tragédia sempre tinha uma veia cômica, ela sabia disso e parecia estar vivendo a história mais bizarra possível.

Queria sentar, mas não conseguia. Agora ela tinha patas curtas, asas e o pior, tinha antenas! Como? Ela se questionava! Porque dormira mulher e acordara joaninha de antenas. Ficou parada até se dar conta que se podia voar, e que podia fazer coisas que nunca fizera antes, mas na verdade não queria isso. Queria ser gente de novo. Por um momento pensou que poderia ter morrido e reencarnado uma joaninha, quem sabe os indianos não estivessem certo? Mas aí lembrou da condição humana de deixar o corpo. Sempre fica o corpo estorvando, restando, lembrando o que já foi vivo. E na cama não tinha nenhum, seu corpo não estava lá. Não estava morta, mas preferiu estar.

No meio da sua mais nova tristeza de inseto, sentiu algo. Era só instintos agora. Alguém se aproximara do quarto. Virou-se para porta. Olhos fixos em uma sombra que estava cada vez mais perto. A porta se abriu. A luz foi acesa. Era ele. Seu namorado, seu amigo, seu confidente. A pessoa que ela queria partilhar a sua mais nova vida de joaninha.

Ele ficou olhando para o quarto, para a cama desarrumada e vazia. Cara de estranhamento. E ela percebendo que ele não a via, mesmo ela estando ali. Voou até seu ombro, sentiu seu perfume e se esqueceu da sua condição e foi até os olhos dele, queria a certeza de que o amor era intransponível, incondicional.

De susto ele bateu a mão nela, xingou alguma coisa e foi embora. Ela soube depois de dias que ele não foi embora apenas do quarto. Com sua ausência inexplicável ele deixou o quarto, a casa e sua vida, pois agora, ela era um inseto para ele. Nada, além disso.

2 de janeiro de 2009

ano_novo

Começou com diversão, com risadas inteiras, com pessoas completas. Depois veio a familiar dor de cabeça e o sonrisal caiu na água e se dissolveu.


O que parecia sólido se desfez com uma facilidade incrível e essa novidade se juntou com lágrimas e um pouco de tristeza, coisa nada familiar em comemorações.


A noite passou e ficou meio quebrada, meio triste, meio alegre, meio amarga, meio ruim.


Restou metade da garrafa, metade do copo, metade das comidas, metade das risadas e metade do que sou.


Efêmero como os fogos de artifícios que prometem um bom ano e desaparecem na escuridão da noite.