28 de dezembro de 2011

Chega mais

Sou do tipo que adora morder as beiradas do copinho plástico de café e que sente um prazer infantil em ouvir as folhas secas fazerem "crec" ao pisar nelas. Fico contente quando consigo tirar o esmalte todinho da unha com o dente. No frio, gosto de deitar na cama e fazer uns grunhidos me aninhando. Gosto de ler anúncios no jornal enquanto eu como na mesa. No banho, eu tampo os ouvidos com os dedos, deixo a água cair na cabeça e fecho os olhos, parece que estou submersa, talvez no útero fosse assim.

O cheiro novo ou velho de um livro quase sempre me traz alguma sensação. Adoro puxar pelinhas da boca, embora o dano nem sempre compense, mas sou meio masoquista (quem não é?), aliás, gosto da sensação de poder e controle que tenho depois de superar uma dor. Ouvir o celular avisando que chegou SMS sempre me dá empolgação, ainda que por breves momentos e a mensagem seja da operadora. Gosto do arrepio que sinto quando passo hidratante frio na pele e nada me amolece mais do que um gato ronronando.

Esse é meu texto de retrospectiva, nada do que foi, apenas um pouco do que sou.

Oi, 2012.
Prazer.

15 de dezembro de 2011

Nada além

Hoje tudo o que quero é banho quente e cama.

Quero me dar carinho, ficar quieta e deitada encolhida.

Quero mentir mentalmente mil vezes que eu aguento tudo isso sozinha, até chegar o momento de dormir acreditando.

É esse meu plano para hoje.

Nada além, porque nunca é.

23 de novembro de 2011

Top top top...hu.

Meu chinelo arrebentou hoje, cheguei cansada, coloquei no pé, dei dois passos e quebrou. A minha reação foi a mais racional possível, eu chorei. Tirei ele e fiquei olhando, pensando em colar, quem sabe tem conserto? Desisti em seguida porque certas coisas não se consertam, não há salvação, não há cola que grude e desfaça o estrago. Gostava dele, laranja, semi fluorescente, com o nome em dourado, achei diferente assim que o vi e ainda comprei porque tinha a designação de"Top" era o melhor da linha, uma boa publicidade eu diria. É, eu gostava dele. Viajamos juntos, tomamos banhos juntos, descansei com ele no fim de tantos dias e agora ele não passa de algo que foi bom, mas não serve mais, quebrou, né? Até posso colar, mas vou ter medo de usar, vai que ele arrebenta de novo?

Então foi isso, eu chorei porque meu chinelo quebrou. O que um chinelo não faz com a gente, né?

20 de novembro de 2011

Stuck in the middle with you

As coisas vão acumulando, mas a gente ignora, aprende a ignorar, deixa de se importar e se convence que não liga mais. Fala que passou, que não tem efeito algum. Sorri quando tentam te ferrar, dá uma gargalhada quando aquela pessoa não surpreende mais sendo a filha da puta que sempre foi e ainda pensa consigo "porque mantenho contato?". É, honestamente não sei, talvez masoquismo seja um traço mais forte do que eu imaginava, algo que vai além da luz baixa, quem sabe.

Tem umas três semanas que eu limpei meu montinho de coisas, joguei tudo de volta para quem me deu. Eu faço essa limpeza de tempos em tempos, mas agora é o momento de voltar acumular, estou zerada, quer dizer, quase, porque já tem umas coisas na nova pilha de acontecimentos, mas estou naquele período em que apenas sorrio e finjo que não me afetou. Talvez você ainda não saiba que eu sou assim, mas eu estou avisando que eu sou esse tipo de pessoa, sou do tipo que fica com raiva e responde tudo com indiferença, é minha forma imbecil de fingir que não ligo pra você, mas eu ligo sim, tanto que, veja bem, ainda mantenho contato e, não bastando isso, escrevo um texto e ainda posto.



20 de outubro de 2011

You can't

Atualmente eu tenho vários motivos para estar super feliz, sorrindo, quase cantando por aí. Mas acontece que basta uma coisa para me deixar mal, uma coisa que não deveria me afetar, porque já machucou antes e eu tinha prometido não deixar machucar de novo, mas eu minto pra mim mesma com uma habilidade incrível, tão incrível quanto a habilidade que tenho em me enfiar em situações altamente destrutivas.

No final a coisa é simples, se você me machuca é porque eu deixo, porque eu finjo que aguento, finjo que sou forte, porque eu odeio admitir que dói pra caralho seu comportamento, mas a minha covardia é tanta que eu nem consigo dizer isso a você, eu escrevo aqui sabendo que você nunca vai ler e, se ler, vai fingir que não leu, assim como eu que vou fingir que não escrevi.

É tudo tão surreal quanto acordar um dia feliz da vida ouvindo Little Joy para de noite ouvir Smiths e chorar sozinha com raiva de si mesma, mas para tentar mudar, vou procurar fazer como a querida da Renata, vou parar de fazer o Morrisey para tentar fazer o Mick.



6 de outubro de 2011

10.000 claps


O que você não percebe é que se integro a plateia e bato palmas em sua direção, o faço porque gosto de ver você, arrogante como é, expor sua fragilidade na necessidade em ser querido.






2 de outubro de 2011

soad

Bom mesmo é aquele show que te deixa com dor no corpo todo e te faz esquecer, nem que seja por alguns momentos, a dor que não é física, que não é palpável, que não tem Dorflex que ajude.

Torço por uma cartela de shows que sane todas as dores não medicáveis, torço por uma dor mais feliz.



because you never wanna lose... [even the pain]

29 de setembro de 2011

Chora que passa

Daí eu recebo e-mail da Gi falando "você não é louca e nem deu de louca, eu entendo perfeitamente o que você disse" e termino a minha noite chorando quietinha. É choro de cansaço, é choro de raiva, é choro de alívio que alguém não me ache louca, porque certas coisas me parecem tão surreais que eu não tenho mais reação, eu apenas me despeço sem nem saber o que dizer.

Resta torcer para que corretivo faça milagre nos meus olhos amanhã.




19 de setembro de 2011

Dez caralhos

Canseira é a palavra do dia, porque eu me sinto a maior filha da puta sofredora [nem é associação ao fato de ser corintiana] e me odeio por sentir assim, eu odeio coitadismo, a minha vida podia ser pior, eu sei. A sua também, mas você reclama mesmo assim, certo? Me deixa então.

Pode me xingar de dramática, maluca, sem noção que xinga muito nas internê, o dia tá tão completamente na merda que não ligo, será a cerejinha do bolo que eu não posso comer.

Eu tô cansada...

Cansada pra caralho de não ter uma filha da puta de uma pessoa que me faça cafuné enquanto eu chore querendo que o mundo acabe.

Cansada pra caralho de trabalhar, me foder, nem gozar com isso e ainda continuar pobre.

Cansada pra caralho de acreditar em meia dúzia de palavras doces que deixo quem não deve me dizer.

Cansada pra caralho de ser burra e me enfiar, de novo, em situações que já me machucaram antes.

Cansada pra caralho de não me aceitar como sou.

Cansada pra caralho de não integrar a turma de sucesso do último verão.

Cansada pra caralho de competir com a Terra em volume d'água ao beber 5 garrafas de água por dia e fazer dieta.

Cansada pra caralho de ser mulher, queria mesmo ser homem e ter um caralho, porque "a vida é muito menos visceral quando se carrega um pênis consigo"

Não há melhor frase que caiba nesse momento, ter um caralho seria uma solução.

13 de setembro de 2011

A [minha] natureza

Um dia no parque, pé na grama, uma turma descalça e cantando juntas. Violão, um bongô, quem sabe. Um cigarrinho [qualquer tipo], o solzinho batendo nas costas. Os caras de bermudas e as meninas de saias longas, muitas cores, cabelos soltos, borboletas, um vinho ou uma cerveja. Sair da correria que é nossas vidas, do cinza, das ruas, do frio e do concreto dos prédios. Deixar a natureza te cercar, sabe como é?

Então, eu sei e odeio. A minha versão do dia no parque é mais ou menos assim:

Com os pés descalços, vou pisar em qualquer coisa estranha que machuque. Pode ser até um porco espinho, tá, não existem porcos espinhos nos parques de São Paulo? Mas aposto que eu acharia um. A turma tocando desordenadamente me irritaria em poucos segundos cantando qualquer coisa hype ou Legião Urbana. A saia longa enroscaria em algum galho e rasgaria e, como não pratico o desapego, ficaria puta. As borboletas ou qualquer outro tipo de inseto me atacariam, eu sairia berrando e, talvez, fosse aí que pisaria no porco espinho. Se eu tomasse cerveja, ia querer fazer xixi a todo instante, mas não teria banheiro e se tomasse vinho, teria dor de cabeça. Fim.

Viu? Esse é meu dia no parque com a turma, eu já tentei, me senti mal por não parecer adequada em não gostar, mas é esse o fato, não gosto. Eu sou primariamente urbana. A cidade é feia? O concreto é cinza? Sem graça? Bom, opiniões divergem desde sempre. Eu acho o parque bonito, acho a natureza bonita e a respeito e, justamente por isso, não interajo, porque ela quase sempre me incomoda, assusta e me faz querer gritar. Já a cidade não me faz querer gritar, eu me sinto acolhida, me reconheço, fico tranquila.

Eu gosto de subir no alto dos prédios para ver o céu poluído de São Paulo, gosto de andar na avenida e ver a pluralidade das pessoas. Eu sou uma grande humanista, sou fã do homem e daquilo que ele constrói ou desconstrói [muitas vezes destrói, eu sei]. Cada um escolhe o zoológico que visita ou, com sorte, em qual se vive, eu escolhi o meu.

6 de setembro de 2011

Estrago sem foco

Eu falava para ela que afinal, pra quê me expor? Pra quê mostrar que sou do tipo frágil que sente falta de alguém? Me machucar a troco de que? Nunca dava em nada mesmo, era só uma sucessão de acontecimentos tortos.

"- E você ganha o que se fechando? Você optar em se esconder não machuca tanto ou igual a se expor? Afinal, qual o risco se dói de todo jeito?"

Eu quis citar Los Hermanos e falar que eu gosto é do estrago, mas a verdade é que, além de gostar do estrago, acho que criei, meio sem querer, uma imagem minha um tanto equivocada e agora não sei bem como desfazer. Não sei se para começar, enumero aqui as coisas que não sou ou se começo perguntando para as pessoas o que elas acham de mim e, dependendo da resposta, mando um "mas porquê você acha isso?".

Há quem diga que nos enxergamos pelos olhares dos outros, né? Eu, que tenho astigmatismo, devo projetar imagens desfocadas por ai, talvez seja isso o fruto dessa recorrente falta de foco.


16 de agosto de 2011

Na parte de dentro

Lá estava escrito "Forever, I love you forever" e eu não sei se isso é possível, quer dizer, há amores que são incondicionais, eu sei, esses são para sempre, são os de pais, filhos, avós, família e amigos. Mas e aquele amor que te deixou com o coração batendo mais rápido com 15 anos e agora não causa mais efeito algum? E aquele amor dos 17 que te fez gaguejar? E o amor dos 21 que te fez descobrir coisas novas? O que aconteceram com eles? Perderam posto de amor só porque acabaram?

De onde vem esse conceito que amor, só é amor se dura pra sempre? Eu amei sim, mas acabou, então não era amor? Era cilada? Bom, alguns casos eram sim, ciladas, cegueiras, carência demais, mas em outros casos insisto que foi amor. Não é mais, mas foi.

A questão suscitada acima só aconteceu porque ganhei um bloquinho de papel da minha mãe, dentro dele, em cada folhinha está escrito "Forever, I love you forever" ao menos vou poder deixar diversos bilhetinhos para ela, só para ela.
















Forever



9 de agosto de 2011

ter...ça

Vou para o ponto de ônibus às 17h25 e fico lá esperando o Jardim Miram, antes com baratas, agora com degraus novos que são capazes de matar qualquer velhinho que se aventure por ali. Quase sempre vou em pé e pensando no que vou falar, no que posso contar, o que me irritou mais na última semana. Quando chega na Avenida Humberto I eu já fico mais atenta, porque ainda hoje, depois de 5 meses, eu confundo o ponto.

Eu dou o sinal, o motorista sempre para em frente à uma lixeira imensa e eu sempre quase entro no lixo para sair do ônibus. Vou descendo e entro na rua que ainda não sei o nome, nunca lembro. Eu sempre desço pelo lado esquerdo, o lado direito é muito torto. Vou andando, Ipod ligado, sempre meio pronta para tropeçar, quase sempre tropeço por ali, mas isso porque aquela rua tem alguma coisa que mexe comigo, literalmente, por isso tropeço.

Lá tem ruelas sem saídas que são vilas, pequenas vilas no meio de São Paulo, com flores nas janelas, com portas bonitas e hoje tinha até uma bola na rua. Eu fico pensando como eu gostaria de morar naquele bairro, naquelas ruazinhas, as pessoas levam os cachorros para passear na terça como se fosse domingo. Tem um mercadinho antigo, com prateleiras de madeira, a dona é uma senhora que toda terça está varrendo a calçada, ela tem cabelos brancos e sempre usa um avental azul claro, toda terça ela sorri pra mim com a vassoura na mão e eu sorrio de volta. Sempre tenho vontade de entrar lá e comprar alguma coisa, só para ver ela registrando algo naqueles botões velhos do caixa. Ainda vou.

Depois olho os apartamentos, todos lindos, mas com um jeito intimista e penso que também moraria naqueles apartamentos e que seria feliz ali, mas logo em seguida eu passo por uma lavanderia e recobro os pensamentos "Tsc, esse é um bairro de gente abastada, não é seu tipo, gente que manda roupa para lavanderia, você nunca poderia morar aqui, pare de sonhar, você não lava roupa em lavanderia".

Eu paro de sonhar, volto para a realidade porque a casa de portão fechado sempre tem cheiro de Pinho Sol às 17h45 de terça, nesse momento estou chegando, daí eu atravesso e vou para o lado direito, porque a partir dali fica tudo torto, ruim de andar. Toda terça é assim.

Hoje, meu último pensamento foi que toda terça eu me sinto meio imatura demais, como uma criança que sabe que fez a lição de casa errada, mas ainda assim mostra tudo para a professora, mesmo sabendo que não vai levar um A.

Essa sou eu nas terças, eu acordo pensando duas vezes, penso em não ir, reluto, me culpo, mas sempre levo a lição de casa errada para mostrar. Eu nunca saio certa de que fiz a melhor coisa, eu sempre saio de lá com um monte de livros debaixo do braço, umas anotações e com pensamentos tão barulhentos que me fazem até esquecer de ligar o Ipod. Eu saio assim, sem saber direito como eu era na semana passada e pensando o que fazer com tudo aquilo para ser eu na próxima semana.


*texto feito corrido e postado sem revisão.


11 de julho de 2011

Mea culpa

É algo que venho pensando tem um tempo, mas sinto que no momento em que eu admitir claramente isso, tudo ficará mais difícil e Murphy virá me visitar e tudo vai acontecer exatamente de forma oposta do que desejo.

Mas acontece, que mesmo eu fingindo que não é comigo, evitando falar e admitir, a coisa caminha para o lado oposto do que quero, então foda-se, né? A gente aprende a falar com propriedade de si com o tempo, a ter coragem de mostrar a parte ruim.

A minha fraqueza de uns tempos pra cá consiste em assistir seriados e filmes em que pessoas se encontram e são felizes em duas horas, em ler livros em que eu nunca seria personagem central e em chorar como uma criança mimada por aquilo que não posso ter. E eu choro, soluço e depois eu durmo bem. A minha fraqueza está amadurecendo. Eu estou delineando tudo o que eu não tenho, tudo que talvez eu não tenha por toda uma vida e não quer dizer que estou me resignando ou me acomodando, mas porque fingir, não é mesmo? No fim, mesmo chorando, essa sou eu, melhor conhecer o que me torna quem sou.

Quanto eu tinha uns 15 anos, eu li 'Demian' do Hermann Hesse e lá ele diz que quem quiser nascer, tem que destruir um mundo, então é isso. Destruo meu mundo então, jogo tudo para cima, ou na rede, exponho a ferida, deixo doer e admito que eu sinto falta de ter alguém comigo, e se há quem diga que é feio ou pega mal falar isso, que soa como uma pessoa desesperada, bom, paciência. Meu desespero não é em namorar, mas primordialmente em ser sincera comigo como eu nunca fui e expor o que eu nunca pude, é mostrar sem culpa o que não deve gerar culpa, eu.

19 de junho de 2011

Tudo bem com você?

Eu só queria responder "tô bem sim" realmente estando, porque cansei de fingir, cansei de sorrir meio de lado e falar que tá tudo bem. Não tá, sabe? Eu já não lembro mais quando foi a vez que realmente estive bem, eu simplesmente não lembro. Isso não é horrível? Eu acho.

Queria que ficar bem fosse algo simples, fácil, leve, mas não é. Eu faço uma força homérica e o máximo que consigo é mentir para meia dúzia de pessoas e me sentir 'okay'. Eu me esforço, juro. Venho tentando todo dia, mas não tá rolando. Nada me anima e eu sinto que algo aqui dentro tá errado, tá quebrado, sei lá, estragado. Porque eu não fui sempre assim, eu não nasci com esse vazio, não quero acreditar que isso é traço da minha personalidade, afinal, que tipo de pessoa eu seria se fosse assim? Acho que tenho medo de pensar nisso.


13 de maio de 2011

Da ironia do banho e dos pensamentos que não podem ser escritos na água


Entrou no banheiro, tirou o vestido, tirou a calcinha, abriu o chuveiro, mas por um momento cogitou não entrar e tomar banho mais tarde, queria escrever e estava tendo uma boa idéia naquele exato momento e, ela que andava sem boas idéias, achou que deveria sabotar o banho, mas não o fez, confiou na memória.

Foi para debaixo do chuveiro, a água estava bem quente e ela lembrou de quando
era mais jovem, que sua pele ficou ressecada e o dermatologista indicou que tomasse banho morno. Em seguida lembrou que tinha esquecido a grande idéia para o texto e pensou ironizando consigo mesma "Ótimo, já não tenho idéias, vou falar sobre minha terapia, tá na moda".

Depois ficou ali parada, vendo a água cair nos seios, pequenas gotículas que deslizavam até o bico e formavam quase uma pequena cascata, achou bonito e pensou que podia escrever sobre o complexo que tinha quando adolescente pelo tamanho dos seios, mas falar de peitos não era bem o plano, aliás era um péssimo plano.

Passou xampu nos cabelos pensando que não escreveria mais reclamações de como vinha se sentindo sozinha, porque lera em site que ninguém gosta de pessoas que muito reclamam e ela estava carente, ela queria que alguém gostasse dela naquele momento, mas reclamar não ajudaria. Okay, nada de reclamar, nem dos peitos ou da solidão.

Tirou o xampu, fechou os olhos, colocou as mãos nos ouvidos e ficou sentindo a água cair e escutando o barulho que fazia, imaginando que aquele som deveria ser parecido com o que se escuta quando se está no útero, quando ainda não se é gente que toma banho. Teve saudade.

Passou condicionador, tinha que esperar dois minutos com ele na cabeça. Pegou uma escovinha e começou a esfregar os azulejos, limpou três, aí pensou que mania de limpeza era coisa de gente meio desequilibrada, ela não era maníaca por limpeza, mas também estava longe de ser equilibrada. Largou a escovinha. Pensou "que se foda" vou tirar o condicionador. Tirou.

Fechou o chuveiro. Lembrou que não tinha se ensaboado, pensou "belo banho... belo banho!" abriu o chuveiro de novo, se ensaboou, se enxagou, fechou o chuveiro. Pegou a tolha velha. Secou os braços, os seios, a barriga. Suspirou e pensou "tô gorda" em seguida pensou "ah, foda-se" e secou as pernas, passou a toalha nas costas, se enrolou.

Puxou a água do banheiro, pegou o pano xadrez azul que estava meio úmido, passou no chão para tirar o excesso. Saiu do banheiro, foi para o quarto, sentou na frente do computador e pensou "vou escrever algo" e escreveu. Foi postar e...


Não era uma boa idéia mesmo...

7 de abril de 2011

O torto

Eu gosto de quem se fudeu, de quem tropeçou em público e quis morrer de vergonha, de quem já foi enganado. Quero perto de mim alguém que já teve um ataque de riso em velório, uma pessoa que disse o que não devia, alguém que já mentiu e nem sempre se arrependeu.

Quem foi sincero e odiou, quem já foi roubado, quem já chorou sozinho num banheiro e esmurrou uma parede. Uma pessoa que já perdeu o controle, alguém que nem sempre é racional. Quero alguém que ande numa linha torta. Que já amou e não foi correspondido, que sofreu traição, que teve sexo sem compromisso e tentou criar um.

Eu gosto é do estrago, do roto, do sujo, daquilo que está no subsolo. De quem já teve inveja, já teve raiva, desejou o mal e não conseguiu fazer. De quem admite que pode ser vil e carrega cicatrizes com orgulho da condição humana.

Não acredito em semideuses.





*Inspirado no Poema em Linha Reta"

31 de março de 2011

Soul meets body

Naquele momento quando colocou a mão no rosto dele e respiraram cadenciado ela soube que cairia, mas ainda assim se jogou, mesmo sabendo dos riscos da queda. E caiu, conforme esperava.

Ela sempre se lançava porque gostava da sensação que antecedia a porrada no chão. Não sabia muito bem viver sem cair, viver sem sentir. Porque mesmo ficando um tempo estirada no asfalto, era assim que tinha consciência da condição de estar viva.

Acabou aprendendo como diminuir os riscos, porque tinha medo de tomar uma porrada tão grande que a impedisse de cair. Ela precisava de pequenos saltos, pequenas quedas, porradas rotineiras e assim fez.

Mesmo com as cicatrizes continuou se jogando, não só pela sensação, mas porque acreditava que poderia encontrar uma alma por aí, não a gêmea, mas talvez a que iria se jogar com ela no final ou, quem sabe, uma que a segurasse.




And I do believe it's true
That there are roads left in both of our shoes

29 de março de 2011

O meu querer

Fico em alguns momentos pensando quando será que minha vida vai fluir, como nos filmes que acontece algo e bang! Aí sim você começa a viver, antes era ensaio. Aquelas frases prontas aparecem "Sua vida começa agora" aham, ô. Mas eu sei que não, a vida tá rolando e muitas vezes a gente taí vendo a banda passar e nem ao menos tá dançando.

Então por alguns momentos eu fico eufórica achando que não vai dar tempo e me atropelo. Eu penso que meu inglês tá ruim, que preciso estudar mais, que preciso sair do país, mas que antes disso tenho que sair de casa e lembro que preciso fazer outra tatuagem e que preciso de uma bolsa. Aí surto que me sinto carente, mas que nem sempre minha carência tem coerência e penso com calma que quero mesmo é sair de casa. Cíclica, eu sei, meus pensamentos são assim. É mais ou menos dessa forma que as coisas passam na minha cabeça, isso em alguns minutos.

Então eu paro, respiro e percebo que na verdade eu tenho medo de não ser ninguém minimamente importante para os outros. Acho que sou vaidosa o suficiente para dizer que não tenho medo de morrer, mas tenho medo de não ter feito diferença, de ter sido só mais uma. De não ter feito alguém feliz, de não ter mudado algo, além da disposição dos móveis e muitas vezes parece que não há tempo para nada, nem para sorrir sem doer o rosto, nem para ser simples. Eu queria ser simples, ser essas pessoas que tem uma felicidade limpa, sem ressalvas. Dessas pessoas que acordam dispostas de manhã e dormem bem de noite. Eu queria muito.

Querer é o inferno e eu não sei não querer, eu nunca me contento, nunca nada tá sempre bom. Eu nunca tô bem de verdade, sempre tá faltando, sempre tô insatisfeita, sempre pode ser melhor e, com frequência, acho o que tenho pouco, não materialmente falando, mas acho que conheço pouco, que vivi pouco, que me fodi pouco, que fui feliz por pouco tempo. É tudo de menos, é sempre pressa demais. Sempre correndo, mesmo parada na cadeira, corro mentalmente, é uma urgência com tudo, uma necessidade de chegar em algo. É cansativo.

Eu não quero abraçar o mundo, não quero... eu só quero conseguir me abraçar, para saber exatamente como sou e, quem sabe assim, lidar melhor comigo mesma e saber ser a voz interna que me acalma, saber ser auto-suficiente para girar com equilíbrio no meu eixo. É, acho que é isso que eu quero.

25 de março de 2011

Carta aberta aos amigos

Eu preciso esclarecer algumas coisas, agora mais do que nunca e se não fizer, não farei mais. Vou aproveitar meu impulso de sinceridade que tá rolando por esses dias.

Eu demoro para me ajeitar, para perceber que fico mal muitas vezes por coisas que não deveria. E isso quase sempre acontece porque eu sofro de uma ansiedade monstruosa com tudo, eu penso no que pode acontecer, ao invés de esperar acontecer. Eu sei que devo mudar, sei que não me faz bem, mas acreditem, eu tô tentando com todas as minhas forças. Eu tô quase conseguindo matar um dragãozinho da ansiedade por semana, tô na pegada de ex-drogado, sabe? Um dia por vez e tal, mas nem é disso que quero falar.

Eu quero falar aqui para aqueles que se importam comigo, eu vou usar esse espaço para dar um recado, não que eu não possa falar um a um, mas porque acho assim mais fácil. E também porque estou sensívelzinha e é uma forma de agradecer quem tem me ajudado e explicar algumas atitudes minhas. Eu imagino que esses meus sentimentos ansiosos e exagerados devam encher o saco também. Acho que isso vai ficar parecendo uma carta de auto-ajuda, mas foda-se. Eu só quero me fazer clara para algumas pessoas que gosto e ousar me expor sem tanto medo, como exercício de mudança.

Hoje, madrugada de quinta para sexta, dia 25, eu me sinto bem[curiosamente passei o dia no hospital, mas me sinto emocionalmente melhor]. Sobretudo porque tirei uma coisa da minha cabeça que estava me fazendo mal tinha um tempinho e porque descobri que ser visceralmente sincera pode ser um ótimo negócio e quanto a isso, eu agradeço minha amiga Gija, que sempre me disse isso, sempre me incentivou a ser sincera e a jogar a real. Mas é que quase sempre a "real" me expõe demais e eu acho isso fraqueza, eu não gosto de baixar minha guarda assim, porque se expor é sempre um risco, nunca se sabe o que podem fazer com essa exposição. Eu não gosto de mostrar sentimentos claramente, porque acho que isso me enfraquece, porque o "sentir" é sempre mais problemático que o "pensar". Mas acho que isso não é legal e quero mudar.

Então voltando ao foco, aos amigos, quero agradecer por ficarem do lado e peço que entendam que se me afasto é porque me conheço e sei quando não sou boa companhia em alguns momentos. Se você é um amigo, sabe do que estou falando, sabe do que tá rolando, aos que me entendem e respeitam, muito obrigada pela paciência, gosto descompromissadamente de cada um.

E quero agradecer você que, talvez nem saiba, mas foi parte importante dessa mudança que venho querendo, porque ontem me entendeu, não me julgou, ajudou a esclarecer coisas que não estavam me fazendo bem e ainda me fez rir, muchas gracias.

Ps1
O texto tá meio desconexo, eu sei. Mas ele será postado assim, sem revisão porque é meio como estou, meio bagunçada, mas com algum sentido aí no meio.

Ps2.
Já é a segunda vez que fui extremamente sincera e o resultado foi super positivo, só para compartilhar, tá? Pode ser uma boa em diversas ocasiões. Pega essa dica da Gija, ela é boa ;)

1 de março de 2011

sem título mesmo



... e eu não quis ser um problema em meio a tantos, eu não quis ser algo a lidar, mas você, com toda sua atenção foi exatamente isso para mim e agora, como é de sua natureza lacônica, você se despede, como quem nunca esteve presente de verdade, não é mesmo?










13 de fevereiro de 2011

caducis

...as coisas que eu gosto e
que eu sei que são efêmeras
e que passam perecíveis
e acabam, se despedem,
mas eu nunca me esqueço...

De uns tempos para cá é exatamente assim que sinto tudo ao meu redor. Efêmero, rápido e fugaz. E a parte mais incômoda é que, de fato, eu nunca me esqueço. Eu guardo todas essas coisas aqui e fico me machucando, me torturando quando simplesmente deveria deixar ir, deveria ignorar como fazem. Admito, sem culpa que eu gosto das coisas efêmeras, mas gosto numa tentativa de que elas não sejam mais assim, mas elas nunca deixam esse posto.

E agora me sinto com a tal canseira emocional, daquelas que te faz não ter vontade de sair da cama. Canseira por não chegar nunca num ponto de reciprocidade, canseira de tudo aquilo que se despede, me machuca e eu nunca me esqueço. Porque algumas coisas são perecíveis mesmo, mas o que eu sinto parece estar com prazo prolongado.

9 de fevereiro de 2011

flying cow

Registro aqui que não sei ficar de boa, deixar ir, ficar vendo a banda passar só para ouvir a música. Lamento, mas não sou assim. Essa não sou eu. Eu preciso saber qual a finalidade, qual o motivo, quais as condições, de onde viemos, para onde vamos e se os deuses eram mesmo astronautas. Não tentem me convencer que nem tudo deve ter motivo, porque tem sim! Nem que seja a finalidade de não levar a nada, isso já é algo, é um motivo.


Eu não gosto das incertezas e do romantismo do impensado. Não gosto e sabe por quê? Porque quando eu tento me aventurar e ir por um caminho de último momento, eu sempre acabo acidentalmente pegando a rota da destruição [a minha, claro]. Como no filme Twister, eu saio sem rumo, achando que vou ter uma grande aventura [há há] e termino de encontro à uma vaca voando e, ao contrário do filme, ela não passa por mim, mas ela cai na minha cabeça.


Quer dizer, quando eu tento ser essa pessoa leve que deixa fluir, tudo sempre colabora para o momento de uma vaca aparecer na minha rota e eu fico lá, atolada, sem saber como sair dali, porque o peso dela é imenso e vamos combinar que ninguém some com uma vaca do nada, né? Ela até aparece do nada, como no filme, mas depois fica lá, mugindo e você sem saber o que fazer com ela.


Antes que pensem "Ih, a Milla tá afim de um cara com ex-namorada [vulgo, vaca] não, não estou. A vaca aqui realmente é metáfora, mas pode servir para quem tem que lidar com uma ex-namorada vaca, claro. No meu caso, as vacas surgiram por um erro de percurso. Meu, é óbvio.

28 de janeiro de 2011

lupino

Todo homem é uno quanto ao corpo, mas não quanto à alma.*

Ele fugia sem saber direito o motivo. Era como um instinto puro. Mesmo quando prometia fazer o contrário já era tarde demais. Desviara o olhar de um conhecido ou se escondia entre um livro.

Evitava as pessoas. Não acreditava que podia ser alguém agradável. Era sempre meio ríspido e quando seu instinto falhava, acabava sendo constrangedor para todos. Gostava de pensar que estava até fazendo uma boa ação, poupando as pessoas de sua companhia.

A solidão era uma opção, não era timidez como alguns gostavam de chamar. Algumas pessoas tentavam incluí-lo em conversas forçadas e em reuniões, como quem faz um ato de caridade ao convidar o esquisito para seu meio. Ele nunca aceitava esses convites e os poucos que aceitou levou consigo um silêncio que incomodava quem estivesse ao redor.

A mãe disse-lhe um dia que ele era como um lobo fora da matilha. Arredio, recluso, que por vez ou outra até podia ser bonito, mas ninguém nunca confiaria nele, a solidão era sinal do temperamento difícil, típico daqueles que morreriam sozinho.

Quando se dispunha a interagir tornava-se o lobo que sua mãe previra. Na tentativa de ajudar, mostrava os dentes e feria as pessoas, então percebeu que só era possível coexistir quando ele se calava e assim fez.

Para que uma matilha quando se pode ser sozinho? Para que uma sociedade quando você pode ser seu mundo? Foi meio homem, meio lobo. Morreu inteiro e sozinho e não deixou legado de sua existência lupina.


* Hermann Hesse, O lobo da Estepe

Texto originalmente postado em 18/05/2008, aqui