30 de outubro de 2014

A pressão e a necessidade de saber

Hoje está calor, eu gosto, dias ensolarados me deixam mais animada. No trajeto para o trabalho, no metrô, entre as linhas Imigrantes e Alto do Ipiranga, as luzes do trem se apagaram e a ventilação parou. 

Eu passei mal, minha pressão caiu. Nada grave, mas achei melhor descer na próxima estação para sentar um pouco. Desci e sentei. Tinha uma senhorinha lá, sentada usando uma blusa de lã, só de olhar para ele quase pioro.

Ela me olhou:

- Tá bem, moça? 
- Tô sim, é que tá calor demais, ficou sem ventilação no trem e minha pressão caiu.
- Você tá muito branca, quer que chamo um dos mocinhos do metrô pra você?
- Não, não precisa, só sentando um pouco já melhoro, brigada.
- Os trens tão cada dia mais cheios, eu tô aqui esperando passar um vazio.

Quis dizer para a senhora que tadinha, iria esperar muito tempo naquele horário por um trem vazio, mas apenas sorri e disse:

- É verdade, cada dia mais cheios, tudo mais cheio.
- Você é casada?
- Não...
- Quando eu tinha assim sua idade eu vivia passando mal, quantos anos você tem?
- Tenho 33.
- Ah, então não foi com sua idade, quando eu era mais nova que você, com uns 20 anos, vivia passando mal também, daí eu casei e passou.

Sorri, porque não soube o que dizer, não mesmo.

- Quando você casar, isso passa. Você vai casar, né?

Chegou um trem.

- Acredito que não - disse sorrindo - eu vou indo, já tô melhor. Bom dia pra senhora, tchau.

- Tchau, filha, se cuida, bebe água.

Cheguei no trabalho, tô aqui escrevendo, tomando um chá gelado que comprei e pensando em como a vida, de alguma forma, talvez fosse mais simples antigamente ao dividi-la entre antes e depois de um casamento e, de como a frase "quando casar passa", deve cair em desuso gradativamente por total falta de sentido, como tantas outras coisas.

Talvez a vida sem a tentativa de dar sentido para tudo seja mais simples afinal. Desde os primórdios, na tentativa de explicar coisas, criamos Deus. Talvez o sentido das coisas se perca na tentativa de explicar o que não carece de explicações, dessa necessidade em saber e controlar.

Espero que minha necessidade de saber e controlar as coisas também caiam em desuso, quero parar numa estação e vê-las indo embora, talvez mandá-las para Jundiaí, pela linha Rubi, bem longe de mim, não vou nem dar "tchauzinho", apenas vou desejar mentalmente que façam uma boa viagem e que não importunem ninguém, como fazem tanto comigo.



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