12 de março de 2013

Tem sim

Amor virou produto, não é ceticismo, é verdade, e muito do que consumimos nos engana. Por exemplo, vejo esse clipe do Devendra Banhart e quase acredito que só serei feliz e amada quando for magra, quando estiver numa banheira com uma iluminação natural perfeita e quando conseguir passar delineador com perfeição.

Porque nos falam que o amor só acontece de verdade em uma praia linda, com um entardecer avermelhado e mãos entrelaçadas. O amor só acontece no Central Park, com as folhas de outono caindo e um casal abraçadinho. O amor só acontece na vida daquela sua amiga que conheceu um francês em Paris e agora mora lá, e é feliz comendo croissant. O amor só acontece com gente que corresponde ao padrão estético da época vigente. O amor só acontece para os outros.

O amor não deveria acontecer para você que acorda 6h todo dia, que pega ônibus, metrô, que se cansa, que não sorri sempre, que esquece de pentear o cabelo, que não tem grana, que sofre efeito sanfona, que usa a mesma roupa 2x na semana, que não sabe usar salto e também nem usaria se soubesse, porque vive correndo e tá sempre atrasada, você que desmarca compromissos com amigos simplesmente porque não aguenta de canseira, você que percebeu no final do dia que tinha uma casquinha de pipoca no dente e lembrou que comeu pipoca na noite anterior e não entende como o fio dental não funcionou, você que vai tomar banho, esquece o sabonete e se lava com shampoo, você que acha que tá fazendo tudo errado, você que fica insegura com frequência, você, você, você. Eu.

31 anos e todo dia eu preciso discordar, do contrário a descrença me engole. Criolo, há de existir amor em Sp. Cada um tem sua fé, eu também tenho a minha.
Amém.


12 comentários:

Unknown disse...

Tô sempre me identificando com seus textos, impressionante. haha
E amém, assim seja, tamo na espera.

milena disse...

ok, me convenceu.

Antônio LaCarne disse...

Há uma ideia super errada sobre o amor, e você querida, jamais precisa ser magra. Adoro os teus textos porque me identifico com eles, me identifico com todas as barras que somos obrigados a enfrentar todos os dias graças à modernidade que nos preenche e engole ao mesmo tempo.

Desejo muito que os teus dias sejam lindos, inspiradores e que, aquele amor importante pra vida, que faz a gente crescer, te seja ofertado.

Um abração, ;)

Milla disse...

Wi, tamo junto! Super amém pra nós ahah

Mi, tem amor em SP, sobretudo quando você vem cá <3

Antônio, ai, quantas palavras bonitas, muito obrigada! Que seus dias sejam lindos também e que a modernidade não suma com a amor que nos espera :)

. disse...

Daí que lembrei desse textinho do Paulo Mendes Campos, que não é bem "tem amor", mas "teve amor e acabou" (depois escrevi uma versão "amor recomeça").

"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas;

na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão;

como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão;

às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas;

quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina;

no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero;

nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba;

no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba;

uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros;

e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo;

na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo;

às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno;

em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba."

Gharcia disse...

[pq meu amor aconteceu numa noite comum, numa rua da ZN, perto do ponto de onibus, entre um abraço e uma verdade: eu estava abandonando tudo o que eu acreditava por causa daquele abraço.] // e minha vida mudou. Para sempre.

Juliana disse...

cheguei em casa depois de um dia daqueles, sem esperança, aí li seu post e descobri que tenho fé.=)

Milla disse...

Deh, que texto bacana, não conhecia, adorei :)

Gharcia, que lindo isso!

Juliana, assim fiquei até emocionada, que bom que deu um pouquinho de fé, é preciso ter :)

Beijo!

Unknown disse...

Amém MESMO!

Perfeição está extremamente longe de mim... se eu precisar de algo daquele comercial para poder ser feliz tenho minhas dúvidas se conseguirei ao menos um daqueles óculos... aposto que ficariam terríveis em meu rosto >< Nem vou comentar quanto ao tipo físico da modelo, o nariz perfeito que ela carrega no rosto, aquela banheira nem nada mais...

Ai, ai...

Beijos,
Nanie

Milla disse...

A Juliana deixou o comentário abaixo aqui, mas sumiu, juro que não apaguei 0o

"milla, levei teu post pra uma das minhas aulas. Turma do terceiro ano. Todo mundo com 17 anos.

Os alunos gostaram um bocado. E a gente depois ficou listando as nossas imperfeições, tipo tomar banho de xampu. Houve até quem dissesse que xampu limpa mais. hehehehe "

Juliana, de toda forma, ainnn, que linda você! Fiquei super feliz que tenha servido e que tenham gostado, muito obrigada :D

Nanie, é aquela coisa, perfeição é imperfeição, né? Acho mais válido cada um seguir com sua singularidade por aí, muito mais beleza nisso do que a estética padronizada :)

Beijo!

Anônimo disse...

Milla, acredito que exista amor para todos, mas nem sempre da forma que a gente imagina.
Para alguns chegam cedo (amém!), para outros, demora mais.
O importante é não se esquecer de todas as formas de amar que podem preencher nosso coração.
Adorei seu texto.

Milla disse...

É verdade, sempre tem amor, as formas que se diferem.

Fico feliz que tenha gostado :) obrigada!

Beijo!