26 de outubro de 2013

Sentimentos rupestres

Os sentimentos só existem quando especificados? Só existem quando conseguimos dar nomes para eles? Como era lá no tempo das pinturas rupestres, onde a preocupação aparente era apenas sobreviver. Sofriam com a solidão? Sofriam com a morte de um parente? Sofriam emocionalmente?

Parece que a solidão é uma coisa moderna, uma espécie de característica do nosso tempo. Talvez seja justamente porque nunca nos expressamos tanto quanto atualmente. 

Se lá no tempos das cavernas eles sofriam? Francamente eu não sei, mas digo que pensar na praticidade da vida, na sobrevivência de não ser comido por um animal qualquer, não me parece tão brutal quanto pensar na solidão. 

Um animal que rasga tua jugular resolve a coisa em pouco tempo, claro que a morte não é exatamente a expectativa almejada, ainda que ela seja uma das poucas certezas da vida, mas o que muito se escuta e que acho que até concordo, é que todo mundo gostaria de ter uma morte breve, uma morte em que não é preciso pensar muito, ela simplesmente vem, te pega pelas pernas e te arrasta. Sem ter muito o que pensar, sem ter muitas escolhas, apenas aquilo.

Já a solidão é devagar, ela te faz pensar em todas escolhas, te faz pensar na vida, naquilo que você já tinha como certo, mas começa a achar errado. Ela te faz duvidar das suas escolhas, te faz pensar que fez tudo errado e que o resultado da sua vida é apenas reflexo das suas péssimas escolhas, aliás, a solidão faz isso com frequencia, faz você pensar que só fez escolhas ruins. Então você pode querer morrer, pode querer sumir, pode querer ficar quieta para sempre, porque não aguenta mais tanta merda, tanta expectativa criada para resultar em 0.0, mas se você for uma dessas pessoas apegadas à vida, o que é o meu caso, você pode não querer morrer, mas você pode se lamentar por um dia todo que suas escolhas te levaram para um lugar estranho e que, por mais que você tente, parece que anda em círculos e você finalmente se cansa de tentar entender, você apenas deita na sua cama e passa um sábado de sol pensando que pelo menos gostaria de ter vontade de chorar, afinal, chorar seria alguma coisa.

"- Alguma coisa, sabe? 
- Que coisa?
- Qualquer coisa, pode até me fazer sofrer, mas qualquer coisa.
- Ok, sei o que fazer."

Eu não soube nomear, daí eu ganhei TPM.
Paciência, pelo menos ela dura pouco.

Um comentário:

Flá Costa* disse...

A tpm também por aqui essa semana. Cada mês ela se manifesta de um jeito, mas quando ela resolve aparecer com a solidão, confesso que é quando mais fico perdida.

E muito boa a colocação sobre o tempo das pinturas rupestres. Nunca tinha pensado nisso... e acho que faz muito sentido que eles não sentissem essa maldita solidão.