7 de dezembro de 2009

O que ficou

Eu queria escrever sobre algo engraçado, divertido, pensei em um conto, mas sei que vou acabar escrevendo um artigo, um texto mega pessoal, então resolvi deixar na primeira pessoa mesmo, afinal sou eu quem escrevo, né? Porque usar a terceira pessoa impessoal do Jornalismo aqui? Então hoje é pessoal. Escancarado mesmo. E como estou inconstante, acabei de mudar o tema do texto, que será uma retrospectiva do meu ano. Pronto, resolvido.

Eu percebi que eu tenho ótimas lembranças desse ano e que muitas coisas que antes não me faziam rir, hoje me dão cócegas. Exemplo? Eu era muito mal humorada, não conseguia ver humor na desgraça [tudo bem que é preciso atingir um alto nível para chegar nesse ponto, mas hoje estou nele]. Sim! Eu ando rindo, uma desgraça de riso. Às vezes é um sorriso torto, muitas vezes é descontrolado, mas eu consigo rir de muita merda. O motivo? Autopreservação, porque aconteceram merdas homéricas, daquelas dignas da novela, sabe? Teve pessoas com nome composto, teve loira, gente falsa, intrigas, choro, arrependimento e superação. Sem a parte do glamour, Manoel Carlos passou pela minha vida esse ano, acho que é isso. Há quem diga que rir demais é ruim e, de certo ponto, concordo. Quem muito ri, acaba chorando no final. É verdade.

Eu desisti de achar sentido em algumas coisas e então eu simplesmente acabo chorando ou gargalhando. Estou em pontos extremos ultimamente. Dificilmente estive serena ou equilibrada nesse ano. Esse foi o ano do meu desequilíbrio. Eu precisei cair da corda para me encontrar lá embaixo e percebi que muito de quem eu era, eu deixei cair, fui me desfazendo de algumas características minhas, não sei se pelo andamento de tudo ou por um incentivo estranho de algumas pessoas, não importa muito, porque a culpa de ter me jogado aos poucos, foi minha. Sim, essa culpa é minha.

Mas hoje, quase uma balzaca [ando com orgulho da minha idade mediante tanta gente babaca que tenho encontrado], e depois de passar um ano tenso, eu mudei muito. Aprendi coisas horrorosas nesse 2009 e outras coisas boas que levarei para sempre.Uma delas é que agora acho engraçado o medo que eu tinha de beber. Sim, eu era travada e quase não bebia nada alcoólico. Não sei se por receio de um histórico familiar ou se por puro medo meu de perder o controle, mas adivinha só? Perder o controle é muito bom. É sim!

Eu já me perdi em algumas noites, agarrei uns postes, falei alto, fiquei tonta, fiz umas merdas, dancei fora do compasso, fiquei descabelada, misturei fermentado com destilado, mas ainda não vomitei. Não regurgitei aquilo tudo que me fez mal, mas tudo ao seu tempo. Ainda é preciso mandar mais para dentro, para depois soltar tudo, acho que é assim que funciona.

Pela primeira vez, em tantos anos, eu sei que virão mais mudanças e claro que me assusto. Eu não sou fã de mudanças, elas quase me paralisam. Falta sinceridade naquele que afirma que adora mudanças. Isso é desculpa de funcionário que finge ficar feliz quando vai para um setor desconhecido. Mudar? Só se for o salário, para maior. Não gostamos de mudança. Se fosse assim não choraríamos quando fomos expulsos do confortável ventre materno. Ainda hoje desconfio que lá deva ser mais confortável do que aqui, mas é um caminho sem volta.

Bom, sendo assim entre gargalhadas, tropeços, choros descontrolados, bebedeiras, eu gritando, ofendendo, xingando, odiando, amando, duvidando, querendo mal, querendo bem, querendo sumir, querendo morrer, querendo viver, não querendo nada, esquecendo tudo, lembrando das dores, ignorando as dores, abrindo e fechando feridas, com o cabelo bonito, descabelada, unha feita, vida desfeita, sabe para que serviu? Para que eu percebesse que eu sou, mas não uma. Eu sou um coletivo de pessoas. Pessoas que eu aprendi a amar e que me seguraram esse ano inteiro, por toda vez que cai.

Há algum tempo eu escrevi um texto que era baseado em um personagem do livro “O Lobo da Estepe” as palavras surgiram por identificação ao ser lupino da obra, mas hoje eu vejo outro sentido na frase “Todo homem é uno quanto ao corpo, mas não quanto à alma”, porque é isso, minha alma é definitivamente plural. Eu sou um coletivo de quem eu amo.





[ Fiquei clichê e mimimi, mas não se preocupem, não vou desejar Feliz Natal para ninguém ;) ]

2 comentários:

Janaína Pupo disse...

Você não era só travada com álcool, sabemos disso... e vem se "destravando" total!
Se joga pintosa, põe rosa! Uhuuu.
Como diz Manoel Carlos, vamos viver a vida!

2010 promete!!!

E quem tem amigos, tem tudo. Você é muito amada, foi comprovado, não?

Yuri Kiddo disse...

Eu estou sentimental demais agora, então não vou escrever muita coisa. Gostei muito da leveza em que descreve os fatos - mesmo sem descrevê-los, de fato, e sem eles terem a menor leveza - e o final com uma conclusão tão bonita.

Só não concordo com a sua ideia de que mudar é ruim e que ninguém gosta. Eu gosto! "...e prefiro ser essa metamorfose ambulante..."